que vozes ouvir
por qual janela olhar
EAM
Sentidos transgredidos pressupõem uma falsa realidade, mas por ser tão real o irreal, flui magistral pelas pálpebras em cruzamentos de momentos.
Olhar ao contemplar, olhar ao luar, olhar ao acordar, um olhar de apenas admirar.
Como um momento pode durar uma eternidade? Sem indícios de vaidade, identidade ou sequer efemeridade apenas segundos em conjunto ao mundo.
Proponho um amor sem chama, que na verdade se chama morte. Um amor desgraçado onde vermes são Querubins e moscas Arlequins da nossa eterna felicidade.
Proponho um amor de cálice envenenado ao tal amar e ser amado. Um amor enterrado, até mesmo sepultado, enraizado e embrenhado que nunca demonstrado é muito mais belo que esse por ti celebrado.
“Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma. A alma estraga o amor”. - Manuel Bandeira
Dormir, sonhar, fantasiar com o infinito, sem compromisso, sem indícios e riscos, somente o sopro no rosto ou um belo sorriso moço.
Contemplar, amar, cantar e sonhar; correr, cair, escapar sem sofrer; mas sem falar, declamar, cheirar, degustar, sentir, ouvir e ver, a fantasia sempre será fantasia.
Fantasiar paralelamente a vida traz alegria nos olhos das crianças que fazem de uma bolinha de meia à uma bola de futebol; de uma sala de estar a um Maracanã lotado; de um monte de areia ao mais belo castelo; de uma simples pipa ao maior dos planadores, enfim, acordadas porém entrelaçadas com o mais puro sonho dum domingo chuvoso.
Em Hamlet, “O sono é o prelúdio da morte”, mas sem dormir não há sonho, então vida não é vida e acordar não se diferencia da morte.
Paul Fort, “O amor é o único sonho que não se sonha”.
Por fim, mas sempre sem um fim, sonhar é fantasiar, maravilhar uma outra vida; sonhar acordado pode até ser ilusão; mas viver um sonho não tem definição.